23 de março de 2015

Resenha - Mentirosos

Cuidado, pode haver Spoilers!!!
Livro: "Mentirosos"
Autor: E. Lockhart
Editora: Seguinte
ISBN: 9788565765480
Ano: 2014
Páginas: 271
Skoob: Livro
Estrelas: 5

Sinopse: "Mentirosos - Os Sinclair são uma família rica e renomada, que se recusa a admitir que está em decadência e se agarra a todo custo às tradições. Assim, todo ano o patriarca, suas três filhas e seus respectivos filhos passam as férias de verão em sua ilha particular. Cadence - neta primogênita e principal herdeira -, seus primos Johnny e Mirren e o amigo Gat são inseparáveis desde pequenos, e juntos formam um grupo chamado Mentirosos.
Durante o verão de seus quinze anos, as férias idílicas de Cadence são interrompidas quando a garota sofre um estranho acidente. Ela passa os próximos dois anos em um período conturbado, com amnésia, depressão, fortes dores de cabeça e muitos analgésicos. Toda a família a trata com extremo cuidado e se recusa a dar mais detalhes sobre o ocorrido… até que Cadence finalmente volta à ilha para juntar as lembranças do que realmente aconteceu."

***

"A porra da minha cabeça está ferrada de inúmeras formas clinicamente diagnosticadas, e metade de mim vem do lado infiel dos Eastman. Não vou para a faculdade ano que vem; desisti de todos os esportes que costumava praticar e dos clubes que fazia parte; estou chapada de oxicodona na metade do tempo e não sou legal nem com meus primos pequenos."

Emily Jenkins, mais conhecida como E. Lockhart, nasceu em 1967 e cresceu em Cambridge, Massachusetts, e também em Seattle, Washington. Quando mais nova, participou de escolas de teatro de verão na Universidade Northwestern e da Companhia de Teatro Infantil em Minneapolis. Se mudou para o Vassar College onde ela estudou livros ilustrados e entrevistou Barry Moser para sua tese e conseguiu seu doutorado em Literatura Inglesa, hoje ela vive em Nova Iorque, e nos emociona com uma escrita que já vem se desenvolvendo desde o livro “O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks” e que me fascinou agora, em “Mentirosos”.
Eu não como começar.
como começar.
se eu começar.

“Olhamos para o céu. Tantas estrelas. Parecia uma celebração, uma festa grandiosa e proibida que a galáxia fazia depois de colocar os humanos para dormir.”

Vamos lá, Cady ou Candance, é a neta mais velha da família Sinclair. É apenas 3 semanas mais velha que Jhonny. Todos os verões, seu destino é o mesmo, a ilha Beechwood. Uma ilha que já vem passando de geração em geração e que agora pertence ao seu avo, Harris. Na ilha cada uma de suas tias tem uma casa. São três filhas. Três casas, a casa dos empregados e a casa principal, onde mora Harris.
Cady tem três melhores amigos/primos. Mirren filha da tia Bess e sua prima. Jhonny, filho da tia Carrie e seu primo. E Gat, sobrinho do marido – que ainda não é marido – de sua tia Carrie, o Ed, e amigo/amor de sua vida. Gat vinha para a ilha desde pequeno, e isso acabou se tornando normal, ele, um mestiço de indiano vivendo entre a elite Sinclair. Os quatro juntos, depois do verão dos dez se tornaram Os Mentirosos. Faziam tudo juntos, todos os dias, como se fossem irmãos. O verão sempre foi muito especial para Cady por conta disso.
Gat era a paixão de sua vida. Ela percebeu isso no verão dos quinze, só que o único problema era que ele já estava namorando. O nome dela era Raquel, e morava em Nova Iork, assim como ele. Mas ainda assim, Gat disse que a amava. Nem mesmo tocou no nome da Raquel, para ele, Cady não sabia de nada. Esse foi o erro que mais corroeu ele.
O verão dos quinze foi um divisor de águas. Cady, depois de um acidente na água, em que foi encontrada em posição fetal na praia com metade do corpo dentro da água, sofreu um traumatismo e se esqueceu de quase tudo daquele verão. Foi levada ás pressas para o hospital, passou por vários médicos, e agora sofre de graves enxaquecas. No ano seguinte Cady não foi para a Ilha. Seu pai decidiu que seria melhor ela não voltar para lá neste ano. Sua memória sobre o acidente ainda não tinha voltado, as enxaquecas estavam piores, e voltar para lá, segundo os médicos, seria pior para ela.
Durante todo esse tempo longe dos mentirosos, ela tentou entrar em contato com eles. Mandou presentes – coisas da qual ela havia decidido se desapegar, como uma boneca, uma blusa listrada e um livro -, e-mails, mensagens de texto... Mas nada, ninguém a respondeu. Suas notas foram ruins na escola, ela teve muita falta e vai ter que refazer o último ano.
Depois de perder o verão dos dezesseis na Europa, deitada em um banheiro observando os vasos sanitários azuis, no verão dos dezessete ela decide voltar, seu pai já havia programado outra viajem, mas ela consegue fazer com que ele mude de ideia e a deixe ficar 4 semanas em Beechwood.
4 semanas para se lembrar do que aconteceu no verão dos quinze.
4 semanas para entender o porque Gat não a respondeu, nem entrou em contato.
4 semanas para trazer de volta todas as lembranças daquele verão.
daquele verão.
do verão dos quinze.
Bem vindos ao livro mais louco e perfeito e diferente e maravilhoso e chocante e apaixonante que eu já vi!

"Eu era forte, mas agora sou fraca.
Eu era bonita, mas agora pareço doente.
É verdade que eu aguento terríveis enxaquecas desde o acidente.
É verdade que não aguento idiotas.
Gosto de distorcer significados. Percebe? Aguentar enxaquecas. Não aguentar idiotas. A palavra significa quase a mesma coisa nas duas frases, só que não.
Aguentar.
Você pode dizer que é o mesmo que “suportar”, mas não estaria cem por cento certo."

Seguindo instruções do fim do livro, eu vou tentar falar o mínimo possível.
Esse talvez seja o livro mais foda – em sentido de enredo – que eu já li. A autora nos apresenta um romance que foge totalmente do convencional. A história é diferente, a escrita, estruturação, tudo, tudo é diferente.
Perdi-me um pouco no começo, mas o livro é assim mesmo. Acreditem, se tem uma coisa que os Sinclair não são, é perfeitos! Assim que Cady volta a Beechwood no verão dos dezessete todos podemos ver isso. Seu avo é um elitista nojento e gagá que depois que perdeu a mulher ficou pior. Suas tias e até mesmo sua própria mãe são vacas que não pensaram na vida e só querem viver do dinheiro do pai. Nenhuma se salva.
Seus primos são a parte mais legal disso tudo. Jhonny é o engraçado, que leva a vida numa boa e tem seus próprios princípios. Gat é inteligente, bonito e vai sempre me lembrar de café. E Marren é a garota decidida, que poderia ser tudo o que quisesse.
Cady volta e tudo parece estar como antes. Seus primos, suas tias, seu avo. Apenas 3 coisas estão diferentes: a casa de Clairmont, que perdeu o ar de casa de família, feita em madeira e repleta de recordações, e ganhou linhas retas e frias feita de ferro e vidro, como se houvesse nascido das cinzas; Os dois cachorros que não estão mais lá, que segundo seu avo haviam morrido; E o voto de silêncio que cerca a ilha toda, desde seus primos aos empregados. Ninguém poderia falar nada sobre o que aconteceu no verão dos quinze. Cady teria que descobrir sozinha.
A autora cria contos de fadas para ilustrar a realidade. Isso é demais. “Era uma vez, um rei que teve três lindas filhas...”... Eu realmente amei essas partes, principalmente a parte em que ela faz referencia á “Bela e a Fera”.
Eu, em momento algum acertei o que acontecia na trama, juro para vocês, eu imaginei 300 mil coisas que poderiam acontecer, mas nada, exatamente nada estava certo. Apenas quando eu li o final, que eu entendi. Me joguei no chão frio do banheiro, chorei, xinguei a autora, Deus, o mundo, o Barack Obama, todos. Eu não pude crer que isso era verdade.
Uma trama que se mostra regrada a inveja, desejo, consumismo e falsidade. Muita cobiça.
cobiça.
cobiça para dar e vender.
No fim, eu cheguei à conclusão de que: a culpa é das tias e do avo. Ninguém tira isso da minha cabeça. Tudo o que acontece, acontece por causa deles.
Não é fácil de entender. Isso eu posso afirmar, ainda mais com o fim que a autora deu. Ficaram vários pontos vagos que eu estou tentando entender, fazer com que façam sentido para mim pelo menos. Mas é um livro incrível. Li ele em dois dias. E acho que vou colocar na lista dos livros para ler de novo. Se houver a oportunidade, leiam e aproveitem. É lindo, é intenso, visceral e psicológico. Um drama juvenil que não deixa a desejar em momento algum!
9/50

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