25 de abril de 2016

Resenha - Simon vs. A agenda Homo Sapiens

Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Livro: "Simon vs. A agenda homo sapiens"
Autor: Becky Albertalli
Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580578928
Ano: 2016
Páginas: 272
Skoob: Livro
Estrelas: 5

Sinopse: "Simon tem dezesseis anos e é gay, mas ninguém sabe. Sair ou não do armário é um drama que ele prefere deixar para depois. Tudo muda quando Martin, o bobão da escola, descobre uma troca de e-mails entre Simon e um garoto misterioso que se identifica como Blue e que a cada dia faz o coração de Simon bater mais forte. 
Martin começa a chantageá-lo, e, se Simon não ceder, seu segredo cairá na boca de todos. Pior: sua relação com Blue poderá chegar ao fim, antes mesmo de começar. 
Agora, o adolescente avesso a mudanças precisará encontrar uma forma de sair de sua zona de conforto e dar uma chance à felicidade ao lado do menino mais confuso e encantador que ele já conheceu.
Uma história que trata com naturalidade e bom humor de questões delicadas, explorando a difícil tarefa que é amadurecer e as mudanças e os dilemas pelos quais todos nós, adolescentes ou não, precisamos enfrentar para nos encontrarmos". 

***

Essa semana eu tive o prazer de ler um livro que chamou muito a minha atenção pela sinopse. Não esperava me apaixonar por ele assim, tão fácil e tão rápido. Mas foi impossível me conter. Antes de soltar as borboletas presas em meu estomago, vamos falar da autora. Para quem ainda não a conhece, Becky Albertalli nasceu e cresceu nos subúrbios de Atlanta, GA. Tem escrito histórias desde pré-escolar e geralmente eram sobre seus animais de estimação. Além de escritora, Becky também é psicóloga clínica licenciada, e iniciou seu trabalho atendendo crianças, adolescentes e adultos. Amante de comida – e de quase todas as sobremesas que existem - Becky também atuou por sete anos como co-líder de um grupo de apoio para as crianças não-conformidade do gênero em Washington. Ela agora vive com sua família em Atlanta e “Simon vs. Agenda Homo sapiens” é seu primeiro romance. E convenhamos, QUE ROMANCE MARAVILHOSO!

“- Não vamos fazer mais nada nunca mais. Não vamos para a escola. Não vamos comer. Nem fazer o dever de casa.
-              Eu ia te convidar para ver um filme – diz ele, sorrindo.
Quando ele sorri, eu sorrio.
- Nada de filmes. Odeio filmes.
- É mesmo?
- É mesmo. Por que eu ia querer ver outras pessoas se beijando, se posso beijar você?
Acho que ele não tem argumentos contra isso, porque me puxa mais para perto e me beija com urgência. De repente, estou duro, e sei que ele também está. É emocionante e estranho e totalmente apavorante”.

Simon Spier é gay. Ele sabe disso e não vê problema nisso. Obviamente ninguém sabe, nem mesmo seus melhores amigos Nick e Leah. Até então, guardar esse segredo não era um dos piores e mais difíceis deveres da vida. Ele só ficava na dele, as pessoas achavam ele um cara legal, normal, hetero, por assim se dizer. Ele, anos antes, chegou até a namorar com algumas garotas. Nada demais, só uns beijos.
Mas há alguns meses, enquanto bisbilhotava no Tumblr. de sua escola, ele encontrou um desabafo em relação a essa condição de vida que o chamou a atenção. Era Blue. Ele amou tanto o que estava escrito que comentou com seu e-mail – um fake claro, para não mostrar quem era. E foi então que Blue entrou em sua vida. Ele era da mesma escola, a Creekwood High, do mesmo ano, mas eles não se conheciam. Esse era o plano: Anonimato. Blue era como um diário para Simon e vice e versa. Eles contavam coisas que não contavam pra ninguém e também desabafavam tudo o que podia por e-mail.
Mas num certo dia, Simon teve que entrar no e-mail pela sala de computação da escola, ele precisava falar com Blue mas estava sem sinal e sem seu laptop. Resultado: Simon sem querer deixou o e-mail aberto, seu colega de classe, Martin, viu, deu um print da tela e começou a meio que chantagear Simon. Martin queria que Simon arrumasse sua amiga, Abby, para ele, e em troca ele não fazia nada com aqueles e-mails que provavam que Martin era gay e conversava com outro rapaz da escola. Obvio que era uma chantagem. Simon não podia se dar ao luxo de ver isso acontecer, de ter sua vida pessoal exposta e também a vida pessoal de Blue jogada no Tumblr. da escola.
O problema não era nem mesmo todos ficarem sabendo disso, sabe, seus pais era bem mente abertas, bem avançados mentalmente, e ele tinha certeza que seus amigos também não ligariam para isso. Mas isso é algo muito pessoal, muito dele. Martin não poderia fazer isso, era errado, mas Simon meio que não tinha outra escolha...

“Confesso que gosto de imaginar você criança fantasiando com comida porcaria. Também gosto de imaginar você agora, fantasiando sobre sexo. Não acredito que acabei de escrever isso. Não acredito que estou clicando em enviar”.

Esse é o melhor livro que eu li neste ano.
Acho que pelo fato de uma psicóloga ter feito, esse livro saiu muito fiel a realidade. E eu digo isso no aspecto social, emotivo e amoroso. Simon se vê apaixonado por aquela pessoa que fala com ele por e-mail todos os dias – e quem nunca se apaixonou pela internet? E isso é uma loucura, já que ele não sabe quem é. Blue é uma incógnita, mas ele se sente muito bem quando eles conversam. Por algum motivo Blue não quer que isso venha para o real, assim como Simon, ele também não é assumido. Seus pais são divorciados e ele tem medo de que se essa relação sair dos e-mails as coisas mudem. Mas tudo começa realmente a mudar quando Blue começa a escrever no final de cada e-mail a frase “Com amor”, e também começa a mudar quando eles passam a dar pistas de quem são sem querer. A palavra para esse livro talvez seja essa: Mudança.
Blue começa a mudar aos poucos, contando que era gay só para sua mãe, no inicio. Mas a vida de Simon muda de uma hora para outra. Blue tem grande culpa nisso, mas a coisa pega mesmo quando alguém – sim, nós sabemos quem foi – posta no Tumblr. um convite para todos os garotos da escola, dizendo que “Simon se assumiu gay e quer fazer sexo anal pelo cu com todos”. Isso sem falar no “Bluequete”. Já da pra sentir que isso aconteceu quando Nick e Leah tentam falar com ele, mas não conseguem. Simon só descobre esse post por sua irmão, Nora, que também é da creekwood high. Depois disso vem a parte que eu mais amei no livro.
Simon chega, reúne toda a família e fala aquelas três palavras. “Eu sou gay”. A reação de todos é de alegria e orgulho. Simon sempre foi corajoso, e assumir isso, sair do armário, é um ato de coragem imenso. Ao contrário do que acontece na maioria dos casos, Simon é acolhido por sua família. “Nós te amamos de qualquer forma”, diz seus pais. Mas mesmo depois de desabafar, alguma coisa ainda esta estranha, ele sente isso. A vontade de falar encontrar Blue é maior que tudo, mas parece que fica cada vez mais impossível.
O post some do Tumblr. três dias depois. Quando as aulas voltam Simon até acha que nada vai acontecer, que ninguém deve ter visto. Mas não, o bulling é inevitável. Vários colegas o apóiam mas sempre vai ter aqueles que vão querer transformar tudo em zueira e falta de respeito.
Eu amei esse livro também por conta disso. Por conta dessa realidade. É isso que acontece, principalmente em escolas de ensino fundamental e médio. Na minha cidade mesmo, por exemplo, faz umas três ou quatro semanas, um menino do ensino médio foi espancado na saída da escola por 5 garotos só por ser gay. Gente? Oi? Que que é isso? Espancar alguém só por ele ter um gosto diferente do seu? Isso tudo é o que? Falta de certeza a respeito da sua própria sexualidade? Nós achamos que vivemos em um mundo mais tolerante e sem preconceito, mas não, não vivemos. O preconceito está ai, na nossa cara, só a gente que não vê. Sim, esse caso é verdadeiro, eu moro em São José dos Campos, interior de São Paulo, joguem no Google que aparece. Becky mostra isso em seu livro, mas mostra também que algo esta sendo feito, os diretores e professores tomam partido em tudo isso. Dá pra acreditar que aqui, o menino que estudava na escola e espancou o “colega” por ser gay, foi só suspenso? Sociedade, melhore. O caso ainda esta sendo investigado, mas as más bocas dizem que o agressor não era menor, como a escola disse, e também que todos os cinco agressores eram da escola, ao contrario do que a escola disse, afirmando que só um era da escola... E o menino foi só suspenso! Migo, tem que suspender a sua vida!
Lógico que no livro são só “brincadeiras” verbais, mas ainda assim é desrespeito. E a autora mostra com clareza isso. Simon é uma personagem atípico, forte, não se deixa abater com tanta facilidade a isso. Em uma das ultimas brincadeiras que acontecem, Martin fica muito mal pelo que fez, por tê-lo exposto dessa forma, tenta conversar e pedir desculpas, mas Simon ESCULACHA ele legal.

“É o seguinte: o nome Simon que dizer “aquele que ouve” e Spier quer dizer “aquele que observa”. O que significa que estou destinado a ser fofoqueiro”.

Mas, além disso, dessa realidade triste, a autora nos presenteia, no final do livro, com o relacionamento mais lindo de todos. Obvio que fui enganado que nem um trouxa sobre quem seria o Blue, mas quando descobri, quando eles se beijaram... Meu deus, sabe aquele romance que você quer e anseia e faz de tudo para que seja assim? Repleto de carinho, momentos de silêncio que são preenchidos com beijos e olhares, escapadas para fazer coisas bobas, simplórias, mas que têm todo o significado sentimental do mundo para você... Sabe, esse relacionamento de contos de fadas? É isso. O triste é que a autora nos dá pouco disso, têm poucas páginas mostrando como está sendo Simon e Blue juntos. Mas foi o suficiente para eu terminar o livro com lágrimas nos olhos e uma vontade imensa de ter alguém como eles para mim. Eles são tão perfeitos juntos, se completam de um jeito tão incrível... Esse é um dos meus livros preferidos. Ganhou minha cabeceira com louvor.

“Gosto do que não tem fim – digo. – gosto de coisas que não terminam.
Ele me aperta e beija minha cabeça, e ficamos deitados ali”.

Por favor, leiam, desfrutem do que esse livro pode lhes proporcionar e comentem aqui, pra gente discutir. Eu podia falar por horas desse livro, mas a resenha já esta longa e eu preciso terminar. Obrigado Becky, seu livro é sem dúvidas uma constatação do que temos na sociedade e do que todos buscam, no final das contas: Respeito e amor.
16/55

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Estou aqui me segurando para começar a ler Simon, desde quando lançou fiquei super ansioso e até hoje só não li por falta de tempo e porque já tinha uma listinha de prioridades, mas ele já está lá página inicial do meu Kobo esperando para ser desfrutado hahaha gostei bastante da resenha e do blog de uma forma geral, parabéns pelo trabalho :)

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