15 de agosto de 2016

Resenha - Aristóteles e Dante

Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Livro: "Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo"
Autor: Benjamin Alire Sáemz
Editora: Seguinte
ISBN: 9788565765350
Ano: 2014
Páginas: 392
Skoob: Livro
Estrelas: 5

Sinopse: "Dante sabe nadar. Ari não. Dante é articulado e confiante. Ari tem dificuldade com as palavras e duvida de si mesmo. Dante é apaixonado por poesia e arte. Ari se perde em pensamentos sobre seu irmão mais velho, que está na prisão. Um garoto como Dante, com um jeito tão único de ver o mundo, deveria ser a última pessoa capaz de romper as barreiras que Ari construiu em volta de si. Mas quando os dois se conhecem, logo surge uma forte ligação. Eles compartilham livros, pensamentos, sonhos, risadas - e começam a redefinir seus próprios mundos. Assim, descobrem que o amor e a amizade talvez sejam a chave para desvendar os segredos do Universo".


***

“- Você se lembra de quando me beijou?
- Sim.
- Você se lembra que falei que não tinha funcionado para mim?
- Por que você esta falando disso? Lembro, lembro. Mas que inferno, Ari, você acha que eu esqueceria?
- Nunca vi você tão bravo.
- Não quero falar disso, Ari. Só me faz mal.
- O que eu disse quando me beijou?
- Disse que não tinha funcionado para você.
- Eu menti.
[...] – Vamos tentar de novo – pedi. – me dê um beijo.
- Não. – ele disse.
- Me beija.
- Não – Dante respondeu, para depois completar com um sorriso. – você vai me beijar.
Puz a mão em sua nuca e o puxei para mim. E o beijei”.

Benjamin Alire Sáenz, 61 anos, é um premiado poeta, romancista e escritor. Ele nasceu em Old Picacho, Novo México, o quarto de sete filhos, e foi criado em uma pequena fazenda perto de Mesilla, Novo México. Ele se formou em Las Cruces High School, em 1972. Naquele outono, ele entrou para a St. Thomas Seminary, em Denver, Colorado, onde recebeu um diploma de bacharel em Ciências Humanas e Filosofia em 1977.
Estudou Teologia na Universidade de Louvain, em Leuven, Bélgica. Foi sacerdote por alguns anos em El Paso, Texas antes de deixar a ordem. em 1985, ele voltou para a escola e estudou Inglês e Escrita Criativa na Universidade do Texas em El Paso, onde obteve um mestrado em Escrita criativa.
Seu primeiro romance, “Carry Me Like Water” foi uma saga que reuniu o romance vitoriano e o tradicional realismo mágico latino-americana do e recebeu atenção da crítica. Em seu quinto livro, “What Remains”, seu quinto livro de poemas, ele escreve à verdade essencial da vida de memórias sempre mudando. Situado ao longo da fronteira com o México, o contraste entre a beleza austera do deserto e da brutalidade da política de fronteiras reflete a capacidade da humanidade para ambos.
Sáenz seassumiu gay no final dos anos 2000. Ele reconheceu em entrevistas que ele tinha dificuldade em chegar a um acordo com sua sexualidade devido a ter sido abusado sexualmente quando criança, e que ele começou a explorar temas LGBT na sua escrita, em parte como uma maneira de ajudar a si mesmo trabalhar através de seus próprios problemas com ser gay.
Ele ganhou o Faulkner Award / PEN para a ficção em 2013, com o livro “Everything Begins and Ends at the Kentucky Club”, tornando-se o primeiro escritor latino a ganhar o prêmio. Ele também ganhou dois prêmios em 2013 no Prêmios Lambda, nas categorias de Gay Male Fiction com os livros “Everything Begins and Ends at the Kentucky Club” e “Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo”, livro pelo qual falaremos um pouco hoje.

“- Ari, eu sei o que vejo. Você salvou a vida dele. Porque acha que fez isso? Por que imagina que, do nada, sem pensar, você se joga para tirar Dante da frente de um carro em movimento? Você acha que isso simplesmente aconteceu? Pois eu acho que você não suportava a ideia de perde-lo. Simplesmente não podia. Por que você ariscaria a própria vida para salvar a de Dante, se não o amasse?
- Por que ele é meu amigo.
E por que você arrebenta a cara de um sujeito que bateu nele? Por que faria isso? Tudo isso, Ari, tudo quer dizer que você ama esse rapaz”.

Eu não sei o que se passa. De verdade. Eu acho que estou com um dedo mágico para leituras. Apontei e falei: “Vou ler você” e quando eu vi, já havia terminado a leitura, coisa de um dia e algumas horas.
Aristóteles Mendonza não se sente feliz com nada, talvez desde seus dez anos. Ele estava na quinta série e aquele havia sido um ano incrível. Ah, como foi. Depois disso tudo ficou ruim. Ele não sabia o porquê, só sabia que estava tudo ruim. Aos quinze anos Ari, como gostava de ser chamado, não tinha nenhum amigo. A não ser sua mãe e seu pai. Ele era o filho mais novo de um total de quatro. Suas irmãs, gêmeas, tinham 27 anos. Seu irmão tinha 25 anos. Mas ninguém falava dele. Nunca. Esse era um assunto vetado.
Na primeira tarde de verão daquele ano, depois de ficar entediado em casa, Ari decidiu ir nadar. Era uma péssima ideia, levando em conta que o dia estava infernalmente quente e ele não sabia nadar. O máximo que fazia era boiar e olhe lá. Até pensou em pedir ao instrutor que o ensinasse a nadar, mas eles eram uns idiotas que comparavam mulheres a arvores. Não valia a pena.
Ari apenas gostava de ficar sozinho. Ele se dava bem consigo mesmo e seus pensamentos. Na maioria do tempo ele odiava tudo, inclusive seus pais. Mas ele sabia que isso era só uma fase. Nada demais, como sua mãe mesmo dizia. Era uma faze e tudo passaria.
Essa mudança começou quando ele conheceu Dante Quintana. Na verdade foi Dante que o conheceu, oferecendo-se para ensiná-lo a nadar. Nasceu dali, das aulas de natação e dos diálogos loucos e sucintos, uma forte amizade. A primeira, e possivelmente mais verdadeira da vida de Dante. Forte a ponto de fazer Ari se jogar na frente de um carro para salvar a vida de seu amigo distraído que foi salvar um passarinho caído. Dante nunca mais foi o mesmo. Ari nunca foi o mesmo. Mas tudo mudou mesmo quando Dante se mudou com sua família. Seria coisa rápida, oito meses e ele estaria de volta. Mas e a amizade? A amizade continuaria? Esse talvez seja um dos segredos do universo, segredos esse que Ari busca inconsolavelmente. O que ele vai fazer com esses segredos? Ele não sabe, mas no momento em que descobrir, ele saberá o que fazer.

“O problema da minha vida é que ela havia sido ideia de outra pessoa”.

Tinha uma visão totalmente diferente do enredo desse livro. Imaginei algo louco envolvendo filosofia e etc, mas me enganei. Benjamin Alire Sáenz nos mostra dos garotos sedentos por se descobrir. Não essa coisa louca de descobrir o corpo e afins, sabe, essas coisas de adolescente. Não. Ari e Dante são diferentes, são estranhos e loucos. Um ama palavras o outro poesia. Um é silencioso e tristemente deprimido, o outro é feliz, criativo e sorridente. Disso nasce uma forte amizade.
As tudo muda quando Dante se muda para Chicago. Mas não é Dante que muda, é Ari. Aquele gênio difícil, de independência, que parece não precisar de ninguém entra em cena. De sete cartas recebidas de Dante, ele responde apenas uma. Começa a trabalhar, a malhar, a falar com uma ou outra pessoa. Dante também muda. Ele agora tem muitos conhecidos, toma cerveja, e vodka com suco de laranja. Ele se masturba e beija garotas. E garotos. Ele gosta mais de beijar garotos, mas ele nunca beijou nenhum. Mas ele sabe que quer se casar com um garoto em especial.
Quando ele volta, as coisas estão estranhas, mas são as de sempre. Ele beija  Ari, mas ao contrario dele, Ari não sente nada de diferente, é o que diz...

“Não se pode tocar aquilo de que são feitas as estrelas”.

Esse é o típico livro que não precisa de um mundo de palavras para ser espetacular. O que faz a narrativa ser tão maravilhosa são os diálogos. Da mesma forma que temos segredos e mais segredos entre Ari e seus pais, temos uma relação maravilhosa também. Ele e sua mãe têm os diálogos mais engraçados – só perdem para os diálogos entre Dante e seu pai, Sam, eles são maravilhosos. Ela é professora. Com seu pai a coisa é mais curta. Ele puxou isso dele, sabe, essa coisa de ser calado?
Amei o jeito que o autor nos mostra o crescimento de Ari e Dante. Em um momento temos dois pivetes estranhos, de quinze anos, rindo e competindo para ver quem joga o tênis mais longe, e depois temos dois rapazes, muito diferentes, de quase dezoito anos, lutando para se encaixar. Ari é quem mais muda. Essa coisa toda com seu irmão e com as histórias de guerra de seu pai o mantém preso dentro de si, ele não expressa seus sentimentos, guarda tudo o que pode. E com o passar das páginas vamos tendo mais acesso a ele. Ele muda, e é possível ver, ou visualizar essa mudança, e isso eu achei lindo. No começo tínhamos um Ari mirrado e magricela e estranho... Dai aparece um rapaz moreno, forte – por causa da musculação –, enigmático e muito, muito bonito. Essa evolução é linda de se ver com o passar das páginas.

“Será que todos os garotos se sentiam sozinhos? O verão não era feito para garotos como eu. Garotos como eu pertenciam a chuva”.

Mas, só aqui entre nós, eu queria mesmo era que ele e Dante terminassem juntos. Não imaginei que o casal romântico do livro seriam eles, e me peguei rezando para todos os tipos de deuses que eles se descobrissem. Dava para notar isso em Dante. Na forma como ele idolatrava Ari. Mas nunca esperei que isso fosse retribuído por Ari. Mas eu me enganei. E achei linda a forma como isso aconteceu.
O que era amizade na verdade era amor. Esse talvez seja o segredo do universo. Amor. Todos achavam que Ari era um herói por ter salvado Dante. Mas, só no fim SPOILER entendemos que no fundo, Ari tinha feito isso porque amava Dante, e imaginar um mundo sem ele era um pesadelo. Mas ele não via isso. Tinha suas próprias guerras internas para vencer antes de aprender isso.
Quando Dante é espancado é que vemos isso. Vemos a raiva, o medo, o ódio em Ari. Vemos o ciúme também, já que Dante foi espancado por estar beijando outro cada em um beco. É ai que as coisas passam a mudar. Mas antes disso, Ari tinha que destravar outras travas internas. E gente, quando ele faz isso é a coisa mais linda de se ver. Já podemos notar isso antes do fim, quando ele se abre para Dante e conta o que descobriu sobre seu irmão, e lê poesia para ele, e quebra o nariz de um dos caras que bateram em Dante... Está ali, mas ele precisa de um empurrão para ver. E seus pais fazem isso. E é isso.
Não vão se arrepender da leitura. Ela é linda, inteligente, rápida e sucinta. É um leitura bonita de se fazer. Você só vai entender quando ler. Mas é incrível ver tanta raiva e tristeza evoluir para amor e aceitação. E amizade. Talvez o segredo do universo seja o amor e a amizade, juntos. Espero que o próximo livro seja assim também tão encantador e viciante quanto.
32/55

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